O roteiro de Café do Circuito das Águas Paulista envolve nove cidades do interior do estado de São Paulo: Águas de Lindóia, Amparo, Holambra, Jaguariúna, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Pedreira, Serra Negra e Socorro.
A região é conhecida nacionalmente pelas atividades turísticas, com forte presença da atividade hoteleira.
A região serrana também se destaca pela agricultura, tendo o café como um dos principais produtos.
E é sobre eles que vamos falar nesse post.
Com características genuínas, o produto da região já se destaca entre os cafés especiais do Brasil.
Siga nossas redes sociais:
Café do Circuito das Águas Paulista: da commodity para cafés especiais
O café faz parte da história da região do Circuito das Águas Paulista.
O café chegou ao circuito em busca de terras novas, ocupando o espaço de outras culturas e das matas nativas.
E ele acabou sendo o propulsor para o desenvolvimento da região.
Há registros em documentos que mostram cidades da região do Circuito das Águas Paulista, como Socorro, já com cafés nas lavouras.
Por volta de 1840, a cidade já registrava atividade cafeicultora realizada em pequenas propriedades.
De início, alguns fazendeiros introduziram as experiências com colônias de parceria, deslocando legiões de europeus para a lavoura do café.
Campinas introduziu as novidades e seu progresso contaminava as cidades vizinhas.
Amparo atingiu seu ápice econômico em 1870, tornando-se um próspero município produtor de café.
Com a chegada da ferrovia, acelerou-se o fluxo migratório.
E a região multiplicou sua população atraindo investimentos novos, diversificando a economia e gerando um princípio de industrialização.
Em 1929, o café perdeu espaço para outras culturas agrícolas em decorrência da crise ocorrida em nesse ano, conhecida como a Grande Depressão.
Esse episódio ficou marcado como a maior crise financeira da história dos Estados Unidos da América.
Porém, mesmo o café perdendo espaço na economia da região do Circuito das Águas Paulista, ele continuou forte.
Os pés de cafés nunca saíram da paisagem do Circuito das Águas Paulista, mantendo tradição e histórias que já chegam a 6ª geração de produtores.
E hoje, vive uma nova fase.
A produção, que antes seguia como commodity, passou a ser voltada para o cultivo de cafés especiais.
O café, ao se tornar especial, agrega valor ao produto, ressaltando todas as características do grão, entre elas as notas sensoriais.
Para chegar no nível de café especial, os produtores passaram a usar novas técnicas de cultivo, com o plantio de cultivares de qualidades reconhecidas nacional e internacionalmente.
Esse movimento é resultado de um forte trabalho que ganhou terreno e notoriedade nos últimos 10 anos.
E a trajetória dos cafés especiais do Circuito das Águas Paulista tem sido extremamente positiva.
Veja também:
Especialista em café especial: saiba o que é, o que faz e como se tornar um profissional
Café Gesha: saiba tudo sobre esse café especial
Como abrir um café ou uma cafeteria
Cafés mais caros e raros do mundo
Números de produtores
Atualmente, a região conta com 1.800 produtores, sendo em sua maioria, familiares.
Números da Casa da Agricultura mostram que a maior concentração de produtores de café do Circuito das Águas Paulista está em Socorro, com 1.033 cafeicultores que cultivam 2.365 hectares.
Depois estão Serra Negra, com 207 produtores em 2.523 hectares, seguido de Amparo (147 e 900 hectares), Monte Alegre do Sul (120 e 486 hectares) e Águas de Lindóia (94 e 342 hectares).
A produção desses cafeicultores ocupa uma área de 7 mil hectares de plantação de café.
A colheita média é de 192 mil sacas de 60 quilos, cuja produtividade chega a 28 sacas por hectare.
Produzidos com muito cuidado, os cafés da região possuem forte tradição e a cultura é passada de geração em geração.
Algumas propriedades já estão na quinta ou sexta geração, especialmente as famílias de imigrantes italianos que se instalaram nas fazendas de café da região no século XIX.
A contribuição das mulheres e da agricultura familiar se destaca na cafeicultura do Circuito das Águas Paulista.
A maioria dos cafeicultores são de pequenas e médias propriedades, muitas vezes lideradas por mulheres cafeeiras, com até 50 hectares de produção.
Há também uma nova onda de cafeicultores, que vieram à região atraídos pela qualidade de vida, vocação cafeeira e características produtivas.
Profissionalização: a virada de chave para os cafés da região do Circuito das Águas Paulista
A virada de chave para a transformação dos cafés de commodities para especiais na região do Circuito das Águas Paulista foi a profissionalização.
Esse movimento foi capitaneado pelo Sebrae.
“Nesta trajetória, muitos nos deram as mãos e nos conduziram em passos firmes, nos ajudando a construir uma ótima base para os negócios. O Sebrae é a única entidade que olha para o pequeno e médio empresário e os vê sempre como grandes, sempre acreditando nos resultados de seus empenhos”
Silvia Fonte, presidente da Acecap, sobre a jornada até aqui.
Desde 2012, os produtores de café da região começaram a participar de diversos programas, cursos, orientações e até concursos de qualidade do café.
Os concursos foram implantados pelo Sindicato Rural de Amparo e Região.
Entre os diversos resultados das ações do Sebrae, em 2018, nasceu a Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista (Acecap), envolvendo os nove municípios do circuito: Águas de Lindóia, Amparo, Holambra, Jaguariúna, Monte Alegre do Sul, Lindóia, Pedreira, Serra Negra e Socorro.
Fundada em 26 de janeiro de 2018, conta hoje com 45 associados.
Entre eles, já são 21 cafeicultoras.
Entre os objetivos da associação, está o de promover estudos, pesquisa e o desenvolvimento da produção de cafés especiais com sustentabilidade.
“Somos orgulhosos de fazer parte dessa transformação, que incentivou à mudança no modo de produção. Hoje, fico feliz em ver como a região tornou-se conhecida pela produção de cafés especiais, cada vez mais premiados fora daqui”
Roseli Vasco de Toledo, coordenadora do Sindicato Rural de Amparo e Região.
A associação tem como objetivo unir esforços dos produtores em busca de qualidade do café, autonomia e desenvolver novos produtos.
Todas essas ações contribuíram para o reconhecimento da qualidade dos grãos produzidos na região Café do Circuito das Águas Paulista.
A produção já desdobra em um café de altíssima qualidade para o consumidor, melhor rentabilidade para os produtores, sustentabilidade para um café de montanha, com características de topografia e relevo e no desenvolvimento de produtos associados.
Entre eles o turismo de experiência e conhecimento, que incrementa a produção agrícola e valoriza ainda mais o produto.
Rota do café Circuito das Águas Paulista: turismo para quem gosta de degustar café de qualidade
O café, que já tem uma longa data de contribuição econômica para a região, tem trazido novas fontes de renda para os produtores locais.
A migração para a produção de cafés commodity para os especiais também têm impulsionado o setor de turismo cafeeiro.
A região se tornou um bom destino para experiências com café.
Os turistas podem participar de visitas guiadas às fazendas até lugares charmosos para degustar a bebida preferida dos brasileiros.
Cada vez mais propriedades do Circuito das Águas Paulista se abrem para visitação, com atividades orientadas e sensoriais que apresentam o processo de cultivo do café até chegar à xícara.
“O turismo de café, de uma maneira geral, está se estruturando na região e representa um potencial de crescimento muito grande, principalmente como oportunidade de negócio para pequenos e médios produtores de café do Circuito das Águas Paulista”,
Luiz Eduardo de Bovi, produtor de café da Fazenda 7 Senhoras Speciality Coffee.
O café de Luiz Eduardo foi um dos premiados no 21º Concurso de Café de São Paulo e é um dos produtores que recebe turistas para experiências no cafezal.
Nesta onda do café, o protagonismo voltou-se às pessoas, os produtores, os profissionais, baristas e micros torrefadores que ampliam seu conhecimento no universo do café, estendendo-o ao seu público e formando os novos consumidores.
Foi o que percebeu a produtora de café, Márcia Bichara, que também abriu sua propriedade para vivências com uma pousada ecológica no meio da produção de café, projeto chamado Cafezal em Flor.
No roteiro, os turistas têm a oportunidade de conhecer os pés de café, as diferentes variedades produzidas na propriedade, os processos de pós-colheita, a torra, o preparo, e deliciar-se em uma cafeteria com os diferentes métodos de extração.
“Verticalizamos nossa produção. Nossa proposta vai ao encontro da terceira e quarta onda, onde o consumidor quer conhecimento sobre o quê está consumindo e como foi produzido”
Márcia.
Propriedades de Cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista que fazem parte da rota dos cafés
Cafezal em Flor – Estrada Monte Alegre do Sul, Km 6 – Falcão, Monte Alegre do Sul
Café Santa Serra – Estrada Municipal José Renato Pulini Marchi Sítio Santa Rosa Barrocão, Serra Negra
Fazenda 7 Senhoras Specialty Coffee – Estrada do Serrote, Bairro do Serrote, Socorro
Família Olivotto – Sítio São João da Serra Bairro da Serra, Serra Negra
Sítio São Roque – Estrada Municipal Maria Catini Canhassi, S/N – Bairro das Leais, Serra Negra
Sítio São Fernando Turismo Rural – R. Joaquim Antonio Padula, s/n – Bairro das Leais, Serra Negra
Sítio São Geraldo – Café Nonno Marchi – Estrada Municipal José Amatis Franchi Bairro da Serra, Serra Negra
Sitio Nonno Rouxinoli – R. Hermelindo Rodrigues Bueno, 4617 – Mostardas, Monte Alegre do Sul
Vale do Ouro Verde – Museu do Café – Estrada Municipal Bairro da Serra – km 05, Serra Negra
Cafés de qualidade
Não basta mais citar o país para falar de origem, mas sim a região produtora, chegando por vezes a um café com assinatura, que aborda a região, o produtor, sua história familiar e da fazenda.
A exigência da qualidade dos grãos aumentou e para extrair e perceber estes níveis surgiram as torras mais claras e controladas.
É praticamente um processo artesanal que destaca a figura do mestre de torra, deixando o café extra forte como coisa do passado.
As notas sensoriais ganharam força, com descrição detalhada das nuances obtidas em cada café e um maior interesse dos consumidores pela origem, safra, processo e variedades.
E é esse o objetivo dos produtores de café do Circuito das Águas Paulista.
Conquistar prêmios e reconhecimento como região produtora de cafés especiais, com características intrínsecas ligadas principalmente a sua geografia e clima.
Terroir da região do Circuito das Águas Paulista
A região é apontada como ideal para o cultivo do produto.
O solo e altitude, aliados aos melhoramento de variedades advindo das pesquisas do IAC – Instituto Agronômico, além de amplitude térmica com diferentes temperaturas (calor de dia e frio à noite) dentro de uma estabilidade equilibrada, valoriza a maturação da fruta e resulta na principal característica do Café do Circuito da Águas Paulista.
“Diferente de qualquer região do Brasil, nosso café tem uma doçura aguçada, que se brinca por aqui que o açúcar é colocado no pé de café”
Silvia Fonte – presidente da Acecap
Silvia também é proprietária do Sítio São Roque e se dedica a expansão do café orgânico entre os cafés especiais, tendência também em alta na região.
Características do café do Circuito das Águas Paulista
Os cafés da região se destacam pela doçura acentuada e marcante.
O corpo do café da região também se destaca, com preenchimento de boca.
Encorpado, mas extremamente aveludado.
Com acidez de frutas amarelas, notas de frutas secas, nozes, caramelo e chocolate, às vezes, floral.
Indicação Geográfica de origem
Devido às características únicas alcançadas pelos cafés da região, os produtores deram início ao processo de indicação geográfica para reconhecer o café produzido na região.
O processo para obtenção da Indicação Geográfica é mais uma ação liderada pelo Sebrae, adotado pelo Movimento Líder do Circuito das Águas Paulista, que reúne as principais lideranças da região.
Conta ainda com apoio do Instituto Federal de São Paulo, das prefeituras das nove cidades envolvidas, encabeçado pela estruturação da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista (Acecap).
No Brasil, por exemplo, 100 territórios já possuem o selo de Indicação Geográfica (IG), programa conduzido pelo Ministério da Agricultura.
Essa classificação é concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
Ela mostra que um local ou região tem reputação por produzir um determinado produto, cuja tipicidade e notoriedade ganharam fama.
“Há um vínculo notório do território com o produto, que é percebido pelos viajantes na paisagem, na memória, no modo de fazer e no conhecimento de seus detentores, características que vemos na produção do café relacionado ao Circuito das Águas Paulista”.
Francisco José Mitidieri – auditor fiscal federal da Superintendência Federal de Agricultura em São Paulo, responsável técnico pelo programa no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Estado de São Paulo.
Alguns cafés da região já exportam para diversos países, especialmente mercados da Europa Ocidental, Leste Europeu e EUA, e já chegaram a Austrália, China, Paraguai, Qatar, Rússia, Eslováquia, Emirados Árabes Unidos, Uruguai.
Premiações Cafés do Circuito das Águas Paulista
Os cafés produzidos na região já começam a se destacar.
Entre as ações incentivadoras, destaque para o prêmio local Concurso Qualidade do Café Circuito das Águas Paulista que em 2022 chegou à sua 15º edição.
Outro incentivador é o Concurso Estadual de Qualidade do Café de São Paulo.
Na edição do 21º Concurso, realizado no dia 20 de dezembro de 2022, contou com 10 finalistas.
E os grãos conquistaram três prêmios para o Circuito das Águas Paulista, entre 37 finalistas de todo o Estado de São Paulo.
O que demonstra que a região está no caminho certo para alcançar ainda a excelência na produção de cafés especiais.
Destaques do Café do Circuito das Águas Paulista nas últimas edições do Concurso Estadual de Qualidade do Café Paulista.
Sítio Santa Rosa de Lima – Paulo Rogério Marchi 2015 – 1º lugar Natural, no Estado de SP e no Prêmio Nacional
Fazenda Santana – Reginaldo Farias 2017 – 3º lugar Cereja Descascado
Fazenda Santana – Reginaldo Farias 2018 – 3º lugar Cereja Descascado
Fazenda Santana – Reginaldo Farias 2019 – 3º lugar Cereja Descascado
Fazenda Fronteiras – Ellen Fontana 2018 – 3º lugar Natural
Fazenda Florada da Serra – Carlos Makimoto 2018 – 2º lugar Microlote
Sítio São Geraldo – Roberto Broto Marchi 2020 – 2º lugar Natural
Sítio São Geraldo – Roberto Broto Marchi 2021 – 2º lugar Natural
Fazenda Barreiro – João Paulo Capobianco 2022 – 1º lugar Fermentado e 2º lugar Orgânico
Fazenda 7 Senhoras – Luiz Eduardo Bovi 2022 – 2º lugar Fermentado
O café do Circuito das Águas Paulista vem se destacando também em publicações internacionais renomadas, entre elas, participou de um artigo do engenheiro agrônomo Jonas Leme Ferraresso para a conceituada 25ª SCA Magazine, uma das publicações mais relevantes sobre o universo do café traduzida em 8 idiomas.